TERÃO OS PAÍSES RICOS EM RECURSOS NATURAIS UMA NOVA CHANCE PARA O DESENVOLVIMENTO ?

 A TRANSIÇÃO VERDE E O BRASIL

 




Há cerca de 300 anos, iniciaria uma
transformação ancorada no conhecimento, tecnologia, inovação, organização da produção e instituições, tomou corpo no mundo.

De maneira simplificada, fomos da Revolução Neolítica à Revolução Industrial e, mais recentemente, à Revolução Digital. Com isto, a influência econômica da geografia iria, pouco a pouco, ceder espaço para ideias, tecnologias e eficiência.

Este arcabouço nos ajuda a entender por que países com poucos recursos naturais puderam se enriquecer, enquanto outros, ricos naqueles recursos, seguiriam pobres.

O desenvolvimento e a fluidez dos mercados globais têm garantido uma ordem que permite a países com recursos naturais escassos, aceder aos alimentos, energias e minerais de que necessitam.

Séculos de extrativismo predatório têm alterado a geografia ao destruir florestas, dilapidar recursos hídricos, contaminar solos, degradar terras, poluir o ar e a água e emitir gases estufa.

Tudo isto está levando ao aumento de eventos climáticos extremos, trazendo perturbações e imprevisibilidade aos mercados.

A volatilidade e os riscos subjacentes àquelas alterações já estão afetando os valores dos ativos, a viabilidade econômica e financeira de projetos e afetando bancos e mercados de seguros. Pense nas enchentes do Rio Grande do Sul.

Quanto custa uma catástrofe climática?

De outro lado, testemunhamos uma desglobalização causada por fatores políticos, com movimentos autárquicos de discriminação, protecionismo, controle de capitais e de investimentos e espetaculares pacotes de subsídios e intervenções que adicionam aos desafios do funcionamento dos mercados.

Essa busca de autossuficiência parece partir do pressuposto de que os mercados de recursos naturais seguirão funcionando normalmente, o que pode ser uma avaliação equivocada.

Ao que tudo indica, o aquecimento do planeta seguirá aumentando e, a esta altura, é difícil acreditar que seremos capazes de contê-lo dentro dos limites de segurança. E, pior, a euforia de anos recentes com compromissos e metas ambientais está perdendo fôlego.

De fato, interesses comerciais, procrastinação, e o ainda crescente consumo de petróleo e a revogação de compromissos de empresas com princípios ESG sinalizam que estamos distantes do Net-Zero.

Nesse contexto, a geografia deverá voltar ao centro da agenda econômica, o que terá implicações sociais, políticas e geopolíticas.

Afinal, não se produz água, energias renováveis, alimentos e nem minerais em laboratório e tudo aquilo que depende de recursos naturais deverá experimentar aumento significativo de preços relativos.

Com condições geográficas únicas, o Brasil tem enormes vantagens comparativas e competitivas associadas a recursos naturais que muito podem contribuir para as agendas globais. O país tem área para expansão da produção agrícola e as maiores reservas de recursos hídricos, o que o habilita a aumentar a produção de alimentos para a mesa do mundo.

Além disto, o país tem matriz elétrica 93% renovável, o que o habilita ao powershoring, ou a receber plantas e cadeias industriais intensivas em energia e que necessitam descarbonizar as suas operações.

Esta estratégia, de um lado, acelera os tempos da descarbonização em nível global e, de outro, reduz os seus custos, ao tempo em que permite aumentar rapidamente a oferta de bens manufaturados verdes.

O país também dispõe de grandes reservas de muitos dos mais importantes minerais necessários para a transição climática, que o habilita a desenvolver cadeias de valor industriais para a sustentabilidade.

As ricas florestas e biomas, a inigualável biodiversidade e a bioeconomia também levam a que o Brasil possa contribuir de maneira fundamental para a descarbonização e o equilíbrio do clima e para o fornecimento de soluções biológicas sofisticadas para problemas novos e antigos.

E o Brasil também lidera a agenda de biocombustíveis. Tudo isto sugere que a luta contra a descarbonização passará pelo Brasil.

O Brasil tem razões de sobra para dobrar a aposta em políticas e investimentos da sustentabilidade, converter-se em referência da transição verde e justa e ser importante provedor de soluções de interesse de todos.

 

 

 

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