VOCÊ CONHECE A TEORIA DAS ELITES ?
Tudo bem ?
Tenho pensando bastante nos vários grupos que compõem nossa cidade e
comecei a imaginar se o nosso problema não estaria na qualidade das nossas
elites locais e sua mentalidade, deslocando a justificativa fácil da “CULPA” de
nossas mazelas sempre recaindo sobre as classes mais humildes.
Essa é a primeira parte, onde abordo as bases da TEORIA DAS ELITES.
Depois , pretendo deslocar a análise para o caso de Ribeirão Pires e numa
última fase propor algumas soluções ( a título de INconclusão ) para as
questões que forem levantadas ao longo do processo.
Espero que gostem e contribuam para provar que estou
errado..rsrsrs...boa leitura
PARTE I – UM POUCO DE TEORIA
Para tentar apoiar minha reflexão fui consultar os clássicos do assunto
PARETO, MOSCA, MICHELS E MILLS.
Na releitura do italiano GAETANO MOSCA, encontrei a clássica definição
das classes de qualquer sociedade “as sociedades estão divididas entre dois
grupos: os governantes e os governados. Os governantes são menos numerosos,
monopolizam o poder e impõem sua vontade valendo-se de métodos legítimos ou
arbitrários e violentos ao restante da sociedade....”
Até aí tudo bem, mas, a originalidade do autor e de VILFREDO PARETO
consiste em explicar que a classe dirigente constitui uma minoria detentora do
poder pelo fato de serem “mais organizados....” , indiferentemente para
DEMOCRACIAS OU DITADURAS.
Desse modo, por afinidade de interesses, os membros da classe dirigente
constituem um grupo homogêneo e solidário entre si. Em contraposição, os
membros mais numerosos da sociedade, se encontram divididos, desarticulados e
desorganizados.
Na sequência, comecei a reler o TRATADO DE SOCIOLOGIA GERAL, de VILFREDO
PARETO, obra em que o autor se preocupou com o estudo da interação social entre
as diversas classes de elites, cujas mais importantes, segundo ele, são: as
ELITES POLÍTICAS e as ELITES ECONÔMICAS. Mas o destaque do estudo está nas
minhas atuais reflexões, na DECADÊNCIA DAS ELITES E OS CONFLITOS EXISTENTES
ENTRE FRAÇÕES DA ELITE PELO DOMÍNIO DO PODER E A SUBSTITUIÇÃO DE UMA POR OUTRA.
Os elogios a PARETO param por aí, porque na sequência do livro ele começa a
afirmar a “naturalidade” da desigualdade entre os homens, a necessidade de um
líder...fazendo a ponte para apontá – lo como um dos pensadores que serviram de
inspiração ao facismo...parei a leitura neste ponto.
Entre os italianos, portanto, obtive algumas respostas:
1. O CONCEITO DE ELITE COMO CLASSE DIRIGENTE E
POUCO NUMEROSA;
2. SUAS DIVISÕES E CONFLITOS INTERNOS
3. A NECESSIDADE DE ORGANIZAÇÃO E SOLIDARIEDADE
INTERNA PARA O DOMÍNIO.
Ainda não tinha conseguido um modelo de aplicação para a análise das
elites em nossa cidade. Parti então para o terceiro autor, o alemão ROBERT
MICHELS, cujos escritos tratam das elites dentro dos partidos políticos de
massa, no seu livro de 1912, "PARTIDOS POLÍTICOS: UM ESTUDO SOCIOLÓGICO
DAS TENDÊNCIAS OLIGÁRQUICAS DA DEMOCRACIA CONTEMPORÂNEA". Gostei demais de
reler a respeito da ELITIZAÇÃO que ocorre inclusive em partidos políticos
democráticos ( OPA !...ALGUMA FERRAMENTA PARA ANÁLISE DA SITUAÇÃO ATUAL PARECIA
ESTAR SURGINDO...). Michels chamou essa tendência à elitização de "LEI DE
FERRO DAS OLIGARQUIAS", sua maior contribuição para a ciência sociológica.
O “pulo do gato” realmente veio na parte do livro em que ele prova que
tal concentração de poder ocorre até mesmo no interior das organizações
comprometidas com os princípios de igualdade e democracia, como os partidos da
esquerda, em tese, mais abertos à participação das bases.
A “ELITE DO PODER”, de 1956, a mais famosa obra de Charles Wright Mills,
foi a leitura final para tentar enquadrar teoricamente minhas tentativas de
reflexão. Aproveitando a teoria de MOSCA sobre os dominados e os dominadores, a
análise do autor o levou a concluir que a
sociedade criou indivíduos sem autonomia, uma massa sem forma ou
liberdade, situação a qual os indivíduos teriam sido levados pelas transformações
sofridas pela sociedade e democracia norte-americanas no século XX. ,
entendendo que a maneira para superar tal situação seria o aprofundamento da
participação política e o aumento do poder do homem médio, ou seja, seria
necessário o aumento da participação democrática. Novamente, algumas indicações
de trilhas a seguir na minha busca começaram a aparecer, levantando
questionamentos a respeito dos mecanismos que poderiam ser mobilizados para a
maior organização e participação do “HOMEM MÉDIO”.
Na visão de MILLS, a definição de elite é POSICIONAL,
uma vez que seus membros te
seriam definidos de acordo com as POSIÇÕES OCUPADAS, E INSTITUCIONAL, pois tais
posições pertencem às instituições do
país.
O próprio autor estabeleceu quatro passos bastante didáticos para a ação
de melhorar a participação política, evitando a formação do “CIRCULO DE FERRO
DAS ELITES”, citado anteriormente quando falávamos de MICHELS.
Em linhas gerais , o método consistiria basicamente no seguinte:
1. identificação das ordens institucionais mais
importantes da estrutura social;
2. descrição das três ordens institucionais
principais constituintes da base da elite norte-americana (ESTADO, ORGANIZAÇÃO
MILITAR E GRANDES COMPANHIAS), cujas características comuns seriam:
a.
expansão em
termos de recursos e capacidade de ação ao longo do século XX
b.
o processo
de centralização do poder de decisão nas cúpulas;
3. descrição da interrelação entre as diferentes
ordens institucionais, que apontou um altíssimo grau de interrelacionamento
entre os indivíduos que compõem as elites econômica (os muito ricos e os
principais executivos de grandes corporações), política (as principais
autoridades estatais e os políticos mais poderosos) e militar (a elite dos
soldados estadistas);
4. delimitação do grupo, sua extensão e unidade
( a cúpula das elites )
a.
círculos políticos, militares e econômicos;
b.
caracterizado
por sua coesão
c.
unidade
psicológica, de partilhamento dos mesmos valores
d.
visão de
mundo
e.
interesses
f.
ações
coordenadas entre eles
Aí, surgiu outro termo que sempre
gostei na teoria dele, a “CIRCULAÇÃO DAS ELITES”, como peça de renovação que
impediria a decadência dos grupos no poder e reforçaria para os elementos da
“parte de baixo” , a possibilidade de ascensão e participação no grupo de
domínio. Tal circulação, baseada na tradição familiar e a mescla entre “velhos”
e “novos” ricos para a constituição de uma unidade se daria pelo sistema
educacional, responsável pela socialização de valores e desaparecimento de
distinções, de modo a criar uma consciência de pertencimento a um mesmo grupo,
distinto do restante da sociedade e superior a ela, por meio de um processo
desenvolvido principalmente por escolas preparatórias particulares e
universidade de elites americanas.
Terminada a exploração teórica, algumas conclusões puderam ser listadas
para fins de direcionamento para tentar responder algumas questões:
1. NOSSO PROBLEMA É DE ELITE OU DE POVO ?;
2. EXISTE UM PROCESSO DE MANUTENÇÃO E CIRCULAÇÃO
ENTRE AS ELITES DE RIBEIRÃO PIRES? ;
3. QUAL É O ELEMENTO NORTEADOR E INSTITUCIONAL
DE DOMÍNIO LOCAL ( DE ONDE PROVÉM O PODER ?);
4. EXISTE UM ENVELHECIMENTO E/OU UMA ELITIZAÇÃO
DAS ELITES DENTRO DOS “QUADROS” PARTIDÁRIOS / LIDERANÇAS NA CIDADE ?
5. EXISTE UM PROCESSO DE “IMPORTAÇÃO” DE ELITES
EM MOMENTOS DE NOVOS ARRANJOS ATÉ QUE A SITUAÇÃO DAS ELITES LOCAIS SE
ESTABILIZE, CONSOLIDE ?
6. EXISTE ATUALMENTE, UMA DISPUTA INTRAELITISTA
ABERTA, ENVOLVENDO A ELITE ECONÔMICA DE UM LADO E A ELITE POLÍTICA DE OUTRO ?
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